Certamente já passaram por aquela sensação de chegar ao final de cada ano ou de uma etapa de vida e por momentos reservarem uma porção do vosso tempo para balanços, planos ou previsões. Os balanços são fáceis de fazer, os planos mais ou menos ambiciosos também não exigem muito tempo, desde que se enquadrem no que se pretende atingir e alinhados com metas claras. Já as previsões são algo que entram no domínio do esotérico. Bem, talvez o termo esotérico possa ser um pouco exagerado, no entanto o futuro estará sempre condicionado por poderes que não são muitas vezes domesticados pelos nossos desejos e rapidamente obrigam à correção de planos e projeções.

Deixando para trás esta dificuldade que é essa “ciência” de prever o futuro, podemos concentrar-nos nos sinais e tendências que nos indicam pistas não para descobrirmos o que se vai suceder, isso seria a ruína do futuro; mas para pelo menos entendermos qual será a direção aproximada que o destino irá tomar.

A pandemia e todas as consequências que ela trouxe até ao nosso quotidiano é o exemplo perfeito de que muitas vezes as previsões são sempre falíveis. Seria impensável a previsão exata de todas as consequências que este acontecimento viria a provocar em 2020 e que ainda se fazem sentir. A extensão deste acontecimento imprevisto abalou algumas das convicções num crescimento económico sustentado ou com oscilações pontuais, mais ou menos previsíveis e com receitas de correção económica conhecidas.

A devastação económica provocada pela Covid-19 minou os alicerces de uma sociedade que lutava por ser próspera e duradoura. Os negócios que encerraram por obrigação dos Lockdowns, os Lay-Off impostos como uma barreira higiênica de proteção laboral, a quebra de rendimentos e a consequente quebra de consumo, foram uma avalanche de consequências negativas que nos fizeram questionar a forma como organizamos os nossos negócios e as nossas vidas. Na verdade, as crises geram sempre oportunidades de aprendizagem e de mudança de hábitos, mas os seus créditos dolorosos marcam indelevelmente a sociedade.

Uma observação mais ou menos atenta aos indicadores macroeconómicos do Banco de Portugal dos últimos dois anos pode-se testemunhar a severa impressão digital que a crise Covid-19 deixou nos indicadores económicos e sociais. O Produto Interno Bruto (PIB) teve uma interrupção abrupta da tendência de crescimento dos anos pré-Covid-19. O consumo retraiu-se, os números do desemprego apesar de terem registado um crescimento foi muito limitado pelas políticas de lay-off e de apoio aos sectores mais abrangidos pela pandemia com destaque para o sector do Turismo.

Já o fenómeno da taxa de inflação na zona Euro manteve-se estável ou em valores próximos de zero ou mesmo para lá dessa barreira. Esses valores “bizarros” podem encontrar a sua explicação na disrupção tecnológica, na deflação exportada através do comércio em algumas áreas do universo emergente e de divida global. No entanto os sinais que surgem no horizonte já adivinham a inversão deste ciclo deflacionário.

O fim dos Lockdowns quer no nosso país, quer na Europa, trouxeram consigo uma retoma da produção e um regresso furioso do consumo. Já os amplos programas de financiamento às economias afetadas pela pandemia estão a ser responsáveis pela massiva injeção de dinheiro nas economias, que por sua vez estão a puxar pelos preços das matérias primas que na sua cadeia de integração de valor vão inevitavelmente afetar os preços dos produtos que chegam aos consumidores.

Os sinais de alerta de tempestade que se está a formar já soaram. Os índices de preços das principais matérias primas não têm parado de subir desde o inicio deste ano, aliado a esta tendência de subida verifica-se uma escassez de matérias primas e componentes de incorporação produtiva que têm obrigado a reescalonamentos produtivos ou em casos mais extremos a suspensões temporárias de produção. Os custos de transporte de mercadorias marítimas entraram numa espiral de subida descontrolada e ainda sem um fim à vista, criando inevitavelmente uma grande pressão sobre custo final dos produtos apresentados ao mercado.

O Covid-19 foi inquestionavelmente um acontecimento que marcou uma geração pela negativa, um terramoto de alto grau económico e social que agora está a produzir réplicas que se fazem sentir muito especialmente na inflação, na escassez de matérias primas e muito especialmente na extinção de um ciclo económico pautado por taxas de inflação muito baixas.

Diante este panorama não muito animador, o que fazer para atravessar a tormenta sem grandes percalços? Bem, não existem receitas para nos protegermos destes cenários negativos, todavia existem comportamentos pessoais ou coletivos altamente recomendáveis para mitigar os efeitos nocivos.

A criação de poupanças, embora sejam mais difíceis de alimentar em tempos de inflação são uma excelente ferramenta de criação de riqueza que por sua vez são de crescimento mais acentuado em períodos inflacionários. A possibilidade de amortização de créditos sempre que possível, é uma excelente oportunidade de redução de dividas e de exposição à inflação associada.

Tempos de instabilidade financeira aconselham uma superior prudência na aquisição de bens duradouros como por exemplo imóveis, automóveis, maquinaria e outros semelhantes. Antes de qualquer decisão aquisitiva, avalie as necessidades do bem, a rentabilidade do mesmo e se o mesmo for inadiável evite a aquisição sem recurso a crédito, mas se tal for uma impossibilidade estude atentamente as taxas de juro e indexantes.

A redução ou racionalização de despesas são uma recomendação evidente, já a criação de orçamentos como uma prática de previsão de gastos futuros é uma excelente ajuda para se criarem cenários controlados.

As crises são terreno fértil para o surgimento de ofertas de ganhos acima de média através de investimentos duvidosos personalizados por indivíduos ou organizações que exercem a sua atividade nas margens da lei. A experiência na advocacia, obriga-me a questionar todos os factos e como tal é altamente recomendável que seja um pouco de Advogado nestas circunstâncias de promessas de ganhos “milagrosos”. Questione todos os ângulos das promessas e a idoneidade de quem apresenta inacreditáveis lucros com investimentos residuais.

O panorama que atrás foi apresentado não é muito otimista, as incertezas quanto ao rumo da economia nacional e europeia é muito nebuloso. A inflação que nos consome os rendimentos está a erguer-se com promessas de severidade e as expectativas de crescimento embora otimistas são ainda vulneráveis. Mas sobretudo, nunca se esqueça de que foi a Cigarra poupada, honesta e trabalhadora que venceu o inverno rigoroso.

11-06-2021

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Susana Canêdo - Advogada
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