As testemunhas… O célebre tempero que pode transformar um prato insosso num banquete jurídico recheado de surpresas. Não importa quão sólida seja a argumentação do advogado, o depoimento de uma testemunha pode virar tudo de avesso num piscar de olhos. E se há algo mais imprevisível do que o comportamento humano em tribunal, é a sinceridade de uma testemunha.

A “testemunha amnésica”

Comecemos pelo clássico: a testemunha que “não se lembra de nada”. Sim, aquela pessoa que entra na sala de audiência com a mesma cara de quem está numa reunião sobre os direitos do Lince da Malcata. O advogado pergunta: “O senhor lembra-se do que aconteceu no dia 5 de maio, por volta das 14h30?” E a resposta vem, clara e precisa: “Não, não me lembro de nada.” O advogado, com um olhar de incredulidade, volta à carga: “O senhor não se lembra de nada mesmo? Como, por exemplo, da vez em que viu o arguido no local do crime?” “Ah… sim! Agora que fala nisso, continuo a não me lembrar de nada

E o pior é quando a testemunha começa a recordar-se de detalhes absolutamente irrelevantes. “Mas lembro-me que nesse dia, comi o melhor um pastel de nata da minha vida na pastelaria ao lado da ocorrência”. E o advogado, já encarnado de impaciência: “Isso contribui em quê?” E a testemunha, com ar sério de quem foi severamente injustiçado, justifica-se: “Bem, o pastel de nata tinha uma crosta tão crocante, que criou uma explosão de sabores na boca completamente inédita.

A testemunha criativa

Eis o momento em que o tribunal realmente se torna um filme de ação. Surge a testemunha que não só se recorda de tudo, mas preenche essas brechas da memória com verdadeiros enredos dignos de Hollywood. A audiência mantêm-se em silêncio, até que o advogado da outra parte começa a interrogar: “O senhor viu o réu no dia do facto ocorrido?” A testemunha, com a confiança de um realizador de cinema, responde: “Sim, eu presenciei tudo, mas não era apenas o arguido. Eu vi um helicóptero a movimentar-se, e o arguido estava a ser perseguido por um grupo de homens com máscaras e armados, enquanto tentava escapar numa corda de rapel.” O juiz, sem perceber muito bem o propósito, pergunta: “Mas o senhor tem alguma evidência disso?” A testemunha balança a cabeça e afirma: “Infelizmente, não, mas tenho certeza de que foi assim, porque eu sou muito bom nestas cenas de ação.”

Este tipo de testemunha poderia facilmente escrever um livro de ficção científica, mas o tribunal, na sua infinita paciência, só pode aguardar que ela termine o “argumento” de como o arguido se escondeu atrás de um camião, disfarçado de estafeta. Quando o advogado pergunta se há mais detalhes, a testemunha com ar importante responde: “Sim, mas tenho que deixar o resto da ação para o próximo episódio da série.”

A testemunha “eu não vi nada, mas eu ouvi dizer

Este é um clássico para quem gosta de criar teorias, mas não tem nenhum tipo de evidência concreta. A testemunha entra em cena com o tipo de confiança de quem acaba de ser promovido a “consultor de teorias conspiratórias”. O advogado pergunta: “O senhor estava presente no local do incidente?” A testemunha balança a cabeça e responde: “Não, mas ouvi dizer que o arguido estava lá.” O advogado, com o semblante sério: “E quem lhe disse isso?”Olhe Doutor, não posso revelar as fontes. Sou muito discreto. Mas, apenas lhe posso revelar que foi, o primo do vizinho da irmã do meu colega de trabalho, que me disse.” E o juiz, com um sorriso amarelo: “Deixe-me ver se eu o entendi: o senhor não viu nada, mas ouviu dizer.” A testemunha, com a expertise de um investigador privado: “Exatamente, Sr. juiz. Mas posso garantir-lhe que quem me contou, estava 99% certo.”

E não podemos esquecer a famosa testemunha que não tem nada a ver com isso, mas que, durante o depoimento, consegue lembrar-se de tudo, inclusive da vida pessoal do arguido. Quando o advogado pergunta: “O que o senhor tem a declarar sobre os fatos em questão?” A testemunha responde com a calma de quem se prepara para uma entrevista de emprego: “Olhe Sr. Doutor, eu não sei o que aconteceu, mas sei que o arguido uma vez disse-me que ele tinha uma grande dívida no banco. E também que o carro dele tinha problemas de suspensão, porque ele pediu-me uma vez para verificar essa situação.” O advogado, tentando manter a compostura: “Senhor, por favor, estamos a falar de um homicídio e não de questões mecânicas.” E a testemunha, com ar de sabedoria, responde: “Mas, doutor, um carro com suspensão desgastada pode ser muito perigoso, e o arguido pode ter sido…”

A testemunha Sherlock Holmes

Não podemos esquecer a testemunha “detetive amador“. A Sofia, 32 anos, assistiu a um assalto a uma padaria. O depoimento? “O ladrão tinha 1,87m, olhos cor de avelã, usava perfume de lavanda, signo sagitário e coxeava do pé esquerdo por causa duma cirurgia recente, sei porque investiguei o Facebook dele.” O advogado pergunta: “Mas… viu isto tudo em 30 segundos?” E ela: “Claro, sou muito observadora, até já sei com quem namorou em 2012!” É o CSI Sacavém, mas sem orçamento para a banda sonora.

O mistério da testemunha que se transformou em advogado

E então, quando pensa que viu de tudo, vem o grande plot twist: a testemunha que se torna advogado. Sim, depois de uma série de depoimentos inventados, ela começa a dar palestras sobre “como construir um caso de defesa sólido baseado em pura imaginação”. O juiz, atônito, pergunta: “O senhor não era testemunha no caso?” E a testemunha, com um sorriso de quem descobriu a fórmula do sucesso, responde: “Agora sou advogado, juiz. E acredite, nunca subestime o poder da ficção no tribunal.”

Nota: Este texto é um mero exercício de entretenimento, sem qualquer intenção de emitir juízos de valor sobre o papel dos principais intervenientes em tribunal.

Outubro 2025