Se há coisa que Hollywood adora mais do que explosões e super-heróis, é um bom drama de tribunal. Aquela tensão de toga, o martelo a bater, o advogado a gritar “Objeção!” como se estivesse a salvar toda a humanidade da destruição eminente. E eu, como advogada, confesso o meu guilty pleasure por esta filigrana de Hollywood. E para homenagear a profissão, apresento-vos cinco filmes que fazem da justiça um espetáculo imperdível.

O mentiroso compulsivo (1997) Jim Carrey é Fletcher Reede, um advogado que mente mais do que um político em campanha, até que o filho deseja que ele só diga a verdade durante 24 horas. Imaginem o caos: um advogado incapaz de mentir numa profissão onde a verdade é, digamos, um acessório opcional. Jim Carrey embarca no seu carrossel de caretas e gritinhos que nos faz pensar: será que os tribunais não seriam mais divertidos se todas as pessoas fossem alérgicas à mentira? Embora o tema da importância da verdade enquanto orientação ética da profissão e da vida sejam tratados de forma divertida, Jim Carrey carrega esta metáfora séria, com o seu brilhante talento de nos arrancar gargalhadas não só com as palavras, mas sobretudo com o corpo.

12 Homens em fúria (1957). Um clássico a preto e branco que demonstra que a justiça pode por vezes ser a escalada a uma montanha de tensão com 12 indivíduos a discutir numa sala. Henry Fonda lidera este grupo de jurados que têm de decidir se o réu vai ou não terminar a sua juventude numa cadeira elétrica. Esqueçam os efeitos especiais, não há banda sonora épica, apenas os diálogos afiados como uma navalha e servidos por camadas cada vez mais finas de dúvida e moralidade. O que vemos são homens com todas as falhas e preconceitos, forçados a confrontarem as suas próprias crenças. E, pasmem, a justiça começa a acontecer não pela perícia jurídica, mas por reflexão e humanidade.

Uma questão de honra (1992). Tom Cruise, Demi Moore e o icónico “You can’t handle the truth!” de Jack Nicholson. Um tribunal militar, dois marines acusados e um duelo verbal que deixa qualquer advogado cheio de inveja. Aqui, a lei é um ringue de boxe, e os argumentos são os socos. Se alguma vez duvidaram que gritar numa sala de audiências podia ser sexy, este filme prova que sim. Fica a dica: pratiquem o vosso tom de voz em casa, colegas.

O advogado do diabo (1997). Ser advogado já é, por si só, um desafio. Há clientes difíceis, há clientes impossíveis e depois há… o próprio diabo. Em O Advogado do Diabo, Keanu Reeves interpreta Kevin Lomax, um advogado talentoso que descobre que seu chefe, interpretado por Al Pacino, não é apenas um bilionário carismático, mas sim Lúcifer em pessoa.

O filme é um festival de exageros jurídicos deliciosos. Lomax começa como aquele advogado brilhante e ambicioso, que ganha todas as causas porque, aparentemente, ética e bom senso são para os fracos. À medida que sobe na carreira, percebe que vender a alma pode ser um detalhe contratual que ninguém lê nas letras minúsculas.

A grande lição aqui? Se o seu chefe faz monólogos dramáticos sobre como Deus é o vilão da história e ocasionalmente pega fogo sem motivo aparente, talvez esteja na hora de atualizar o LinkedIn. Além disso, O Advogado do Diabo recorda-nos aquela verdade inconveniente: o sucesso sem escrúpulos pode sair caro.

Erin Brockovich (2000). Julia Roberts do alto dos seus saltos agulha, mostra um decote que desafia a gravidade e enfrenta uma megacorporação que envenena a água numa pequena povoação fragilizada pela pobreza. Baseado numa história verídica, este filme é um murro no estômago com um sorriso nos lábios. Brockovich não é advogada, mas a sua determinação inveja muitos advogados. Se julgam que o vosso trabalho é duro, experimentem lutar contra uma empresa multimilionária com um bebé ao colo e um chefe que vos considera uma amadora. Respect Erin!

Aqui, o grande drama não está no tribunal em si, mas na forma como Erin vai desenterrando os segredos ocultos de uma grande corporação. Como advogados, é impossível não sentir uma pitada de emoção ao vê-la “passar por cima” de todos os obstáculos, recordando-nos de que a advocacia não é só sobre os formalismos do direito, mas sobre a coragem de lutar pela justiça, mesmo que isso signifique arregaçar as mangas, cerrar os dentes e ir à luta… ah, e não se esqueçam de um bom stiletto.

Estes filmes mostram-nos que os tribunais são um circo e não digo isto como insulto. Há palhaços, malabaristas e até domadores de feras (os juízes, claro). Se a vossa semana está a ser uma seca de processos e pareceres, liguem a TV, preparem um chocolate quente e deixem Hollywood lembrar-vos: a lei pode ser chata, mas o drama é sempre um espetáculo. Agora, vou ali contestar a minha conta da Netflix.

Março 2025

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Susana Canêdo - Advogada
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